segunda-feira, 9 de maio de 2011

Um sonho num sonho

Este beijo em tua fronte deponho!
Vou partir. E bem pode, quem parte, francamente aqui vir confessar-te que bastante razão tinhas, quando comparaste meus dias a um sonho.
Se a esperança se vai, esvoaçando, que me importa se é noite ou se é dia...
Ente real ou visão fugidia?
De maneira qualquer fugiria.
O que vejo, o que sou e suponho não é mais do que um sonho num sonho.
Fico em meio ao clamor, que se alteia de uma praia, que a vaga tortura.
Minha mão grãos de areia segura com bem força, que é de ouro essa areia.
São tão poucos! Mas, fogem-me, pelos dedos, para a profunda água escura.
Os meus olhos se inundam de pranto.
Oh! Meu Deus! E não posso retê-los, se os aperto na mão, tanto e tanto?
Ah! Meu Deus! E não posso salvar um ao menos da fúria do mar?
O que vejo, o que sou e suponho será apenas um sonho num sonho?





Edgar Allan Poe